Pequenos Milagres

15-10-2012 20:00

Pequenos Milagres

Por Éolo Yberê Libera  

Eu tenho um acordo tácito com Deus, mais ou menos parecido com aquele que celebrei com meus pais: escuto seus conselhos, presto atenção aos seus ensinamentos e, em seguida, escolho o que fazer e tomo minha decisão. Fui criado assim. Meus pais sempre me deram direito de escolher minhas coisas, meus caminhos, minhas atitudes. Deus fez o mesmo comigo.

Tanto meus pais quanto Deus me avisaram que as conseqüências das escolhas que eu fizesse,  boas e más, seriam também minhas, somente minhas.

Pensando nessa liberdade, alguém – eu não sei quem – inventou a frase: “Você é fruto de suas escolhas.” Eu tenho cá minhas dúvidas. Há escolhas feitas por outros que me afetam de uma forma ou de outra e sobre as quais não tenho a mínima influência. Enfim, a frase está tão consagrada que até parece ser completamente verdade. Mas, não é. É preciso incluir o fruto da escolha alheia.

Eis um drama comum: O moço resolve tirar o carro da garagem, passa na casa da namorada. Juntos vão ao boteco da moda e lá encontram os amigos. Festa. Alegria. Ao fim, a namorada pede a chave do carro porque o moço bebeu um pouco demais. Ele se recusa e afirma que está ótimo. Discutem. Ela, aborrecida, toma um táxi e volta sozinha para sua casa. Ele, o alfa da espécie, escolhe dirigir. Sente-se bem, eufórico e só um pouco chateado porque sua namorada não confiou nele.

Então a coisa acontece: um sinal fechado, uma ultrapassagem, um abalroamento, e está lá o moço estendido no chão. Resgate, pronto-socorro, médicos, pais aflitos nos corredores e a pergunta “Por que Deus tirou nosso filho de nós?

Mas, havia um acordo: Deus deu ao moço todas as pistas para que suas escolhas chegassem a bom termo. Mostrou atitudes, inspirou caminhos, ensinou tudo quanto ele precisava saber para que o acidente não acontecesse. A parte de Deus foi cumprida. O que mais a liberdade do moço - a minha liberdade enfim - pode pedir a Deus? Que Ele decida por mim? Mas, não está combinado que a liberdade de escolha é um dom pessoal, precioso e intransferível?

No entanto, há um meio termo que são os pequenos e silenciosos milagres que Deus faz em nosso favor. Não temos estatísticas e nem dados sobre eles. Não sabemos quantos foram e nem quais foram. E digo mais: quando acontecem, a gente nem fica sabendo. Às vezes a gente desconfia que Deus mexeu seus pauzinhos, mas nada nos dá certeza. Isto se passa comigo porque sei que pequenos milagres são aqueles que às vezes Deus me faz para aliviar um pouco as conseqüências das minhas péssimas escolhas.

Está fora do nosso acordo, eu sei. Ele não precisava se incomodar.

Mas Ele se importa assim mesmo.  É o jeito de dEle.